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quarta-feira, 10 de março de 2010

Enfim, comi quindim...


Todo mundo é limitado, seja por falta de condições físicas, financeiras, por falta de oportunidade ou até mesmo por timidez.
Eu sempre tive dois mundos, um real e um imaginário. Claro que o imaginário sempre foi melhor. Nele eu podia tudo! No mundo real, muitas coisas eram limitadas, ou melhor, a maioria delas. Regras domésticas e sociais a cumprir e limites impostos pelo ser supremo da minha casa, no caso, minha mãe.
Nesse meu mundo imaginário eu falava em público sem ficar vermelha, dizia “oi” pro menino de cabelo comprido e loiro que eu amava em segredo, e que ninguém jamais desconfiou, nem mesmo ele, e até lia minhas redações em voz alta, coisa que eu nunca tive coragem no meu mundo real (e isso quase me fez repetir de ano).
Nesse mundo de faz de conta eu enfrentava a professora de matemática, que protagonizou os meus piores pesadelos e ainda, o mais espetacular prodígio, eu podia comer quindim na hora do recreio!
Pois é, quindim era o meu sonho de consumo no mundo real... mas, porque quindim? Eu nem sequer sabia de que era feito. Aquela coisinha tão amarela, suculenta, com aspecto delicioso sobre um papel em forma de margarida (talvez por isso goste de margaridas até hoje), fazia parte da vitrine diária da cantina da escola e me deixava com água na boca.
O quindim estava acima das minhas posses, mas, antes de comprar o bolo frito que tinha formato de um absorvente íntimo e um picolé, primeiro namorava aquele delicioso doce amarelo.
Muitas coisas na vida são como um quindim, que desejamos, sem saber o gosto que tem, e nem de que são feitos. Os efeitos visuais nos chamam a atenção e passamos a desejar tê-las ou prová-las.
A vida é uma vitrine com variedades enormes de quindins. Cabe a nós escolher entre preencher o vazio do estomago ou alimentar o ego com aquilo que apenas nos matará a curiosidade e o desejo.
Muitos anos se passaram e meu mundo imaginário ainda existe, ele serve para me imaginar nos caminhos que eu não escolhi e comparar com os que escolhi. Mas, hoje, consigo fazer as coisas acontecerem fora dele, não dependo mais de um faz de conta para tomar atitudes e expor meus sentimentos.
No meu mundo real fiz muitas escolhas, tracei caminhos e nas escolhas que fiz, uma me levou a uma gelateria e enfim, comi quindim.

3 comentários:

  1. Uhuuu!! Que honra,fui a primeira! Parabens Ro ,ta muito legal e tenho certeza que vai nos encantar com suas ideias e trabalho. bjs

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  2. Quer dizer que além de prendada, uma arteira e tanto, ainda escreve gostoso desse jeito!!!!! É isso mesmo, uma delícia ler o seu texto! Parabéns cara Ronilda rsrsrs Vc é sensacional!
    Bjinhos

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bjimmm